terça-feira, 4 de outubro de 2016

EUA rompem diálogo com a Rússia sobre a guerra civil na Síria

Diante da intensificação dos bombardeios da Força Aérea da Rússia na Batalha de Alepo, o secretário de Estado americano, John Kerry, anunciou ontem o rompimento do diálogo com Moscou na busca de uma solução negociada para a guerra civil na Síria.

"Juntos, a Rússia e a Síria rejeitaram a diplomacia e parecem continuar perseguindo uma vitória militar sobre corpos destroçados, hospitais bombardeados e crianças traumatizadas numa terra que sofre há muito tempo", desabafou Kerry, citado pelo jornal The New York Times.

Os militares dos dois países vão manter o contato para evitar choques durante "operações antiterrorismo na Síria", esclareceram porta-vozes da diplomacia dos Estados Unidos.

Depois de um breve cessar-fogo no mês passado, a ditadura de Bachar Assad e sua aliada Rússia voltam a apostar numa vitória militar do regime sírio. Em 28 de setembro, o secretário Kerry advertiu o ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, que suspenderia o diálogo se o assalto a Alepo não parasse.

A Rússia rejeitou as exigências e acusou os EUA de apoiar terroristas na Síria. O regime de Assad acusa todos os inimigos de terrorismo, embora o maior terrorista na guerra civil síria seja ele, se considerarmos que terrorismo é um ataque indiscriminado contra civis inocentes escolhidos ao acaso para quebrar a fibra moral do inimigo.

Para não entregar o poder, Assad destruiu seu próprio país com a ajuda do Irã e da Rússia, e a conivência indiferente da sociedade internacional.

O Brasil votou sistematicamente com a China e a Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas, evitando a condenação do regime sírio sob a alegação de que serviria de pretexto para uma intervenção militar como a que derrubou o ditador Muamar Kadafi na Líbia.

Quando o presidente Barack Obama mandou a Força Aérea dos EUA bombardear a milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante para impedir o genocídio do povo yazidi, em agosto de 2014, a então presidente Dilma Rousseff propôs diálogo durante uma entrevista coletiva em Nova York durante a Assembleia Geral da ONU. Com o Estado Islâmico?

A responsabilidade do presidente Barack Obama também não pode ser ignorada. O presidente americano ameaçou bombardear as forças do regime se Assad usasse armas químicas na guerra.

Depois de um ataque que matou mais de mil pessoas na periferia da capital, Damasco, em agosto de 2013, Obama não cumpriu a ameaça. Aceitou um acordo mediado pela Rússia para supostamente acabar com o arsenal químico da Síria. Os ataques químicos esporádicos continuam até hoje.

Dois anos depois da hesitação de Obama, em 30 de setembro de 2015, a Força Aérea da Rússia entrou na guerra civil da Síria a pretexto de combater o terrorismo com uma política de terra arrasada semelhante à usada pelo protoditador Vladimir Putin na Guerra da Chechênia.

Na prática, a Rússia interveio para sustentar o regime e voltar a ser um ator geopolítico importante no Oriente Médio, o que a antiga União Soviética deixara de ser em 1977, quando o então presidente do Egito, Anuar Sadat, abandonou Moscou e se aliou a Washington para recuperar a Península do Sinai, ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

No momento, há pouco que os EUA possam fazer além de criticar a Rússia. Não vão correr o risco de uma guerra nuclear para defender a Síria. Mas junto com seus aliados na região vão continuar armando alguns grupos rebeldes ditos moderados.

Com a revolta da maioria sunita contra Assad, é altamente improvável uma paz estável na Síria sem a saída do ditador e o objetivo da guerra civil desde o começo é manter Assad no poder. A tragédia síria continua.

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