domingo, 5 de novembro de 2017

Trump chega à Asia para discutir China, Coreia do Norte e comércio

O presidente Donald Trump chegou hoje ao Japão, no início de uma viagem de 12 dias pela Leste da Ásia, a mais longa de um presidente dos Estados Unidos à região desde 1991, para discutir como enfrentar a ameaça nuclear da Coreia do Norte, conter a ascensão da China e tentar reduzir o déficit comercial americano.

Na base aérea de Yokota, Trump discursou para militares dos Estados Unidos estacionados no Japão e repetiu que está pronto para uma possível guerra com a Coreia do Norte, sem citá-la: "Junto com nossos aliados, os guerreiros americanos estão preparados para defender nossa nação com toda a gama de nossas capacidades sem igual."

Trump renovou a ameaça: "Dominamos o céu, dominamos os mares, dominamos a terra e o espaço. Ninguém - nenhum ditador, regime ou nação - deve subestimar jamais a determinação dos EUA. De vez em quando, no passado, eles nos subestimaram. Não foi agradável para eles, foi?"

Além do Japão, Trump vai à Coreia do Sul, à China, ao Vietnã, onde participa da reunião de cúpula do fórum de Cooperação da Ásia e do Pacífico (APEC), e às Filipinas para outros dois encontros regionais.

A viagem tem três objetivos, esclareceu o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, general Herbert McMaster: promover a abertura e a liberdade na região do Índico e do Pacífico, aumentar a prosperidade dos EUA através de um comércio justo e "fortalecer a determinação internacional de desnuclearizar a Coreia do Norte".

Durante o voo, a bordo do avião presidencial Air Force One, Trump tentou mais uma vez se mostrar mais forte e mais linha dura do que seus antecessores: "Foram 25 anos de total fraqueza, então estamos fazendo uma abordagem muito diferente."

O Japão apoia a estratégia do governo Trump de impor sanções ao regime comunista norte-coreano, mas teme que o tiroteio verbal se transforme numa guerra real, que seria arrasadora com as armas nucleares que a Coreia do Norte testou nos últimos anos.

Para o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, as provocações norte-coreanas, com mísseis passando sobre o Japão, passaram do limite. Depois de sua recente vitória eleitoral, Abe prepara uma mudança da Constituição pacifista imposta pelos EUA no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1947, que proíbe o Japão de projetar sua força militar no exterior.

Há resistência interna, mas o país quer plena capacidade de se defender. Na era Donald Trump, aumenta a dúvida se os EUA vão defender seus aliados. A falta de unidade estratégica tende a levar cada país a buscar sua própria solução, seja desenvolvendo armas nucleares ou negociando diretamente com Pionguiangue.

A China e a Coreia do Sul querem fazer os EUA negociar com a ditadura de Pionguiangue. Assim, o desafio inicial de Trump é unir os aliados para falar com uma voz única com a China e a Coreia do Norte. O presidente americano insiste em que o regime comunista chinês deveria enquadrar o ditador Kim Jong Un e obrigá-lo a abrir mão dos mísseis e das bombas atômicas.

Talvez a China não possa pela arrogância e imprevisibilidade de Kim. Não quer que a situação saia de controle, deflagrando uma guerra na sua fronteira. Mas talvez não queira fazer o jogo dos EUA. Deixar o inimigo na dúvida e na incerteza é uma antiga lição de A Arte da Guerra, de Sun Tzu, o grande clássico da estratégia chinesa.

A Coreia do Norte é uma carta na manga da China para negociações com os EUA. Os generais avisaram Trump que um ataque preventivo causaria uma guerra com um milhão de mortes ou mais. A opção militar não é uma opção racional e Kim Jong Un sabe disso. Blefa o tempo todo, mas sabe que não pode atacar. Seria o fim do regime.

Na Coreia do Sul, Trump vai encontrar Moon Jae In um presidente que acusou de querer "apaziguar" a Coreia do Norte. Liberal, Moon se elegeu depois do impeachment da presidente conservadora Park Geun Hye com uma proposta de retomar o diálogo com o Norte, enquanto Trump prefere claramente uma estratégia de confrontação.

Como um dos primeiros atos de seu governo, Trump retirou os EUA da Parceria Transpacífica (TPP), um acordo de liberalização comercial negociado longamente pelo governo Obama, de interesse do Japão. Também incluía Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Cingapura, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã. O objetivo era impor as regras do jogo antes que a China faça isso.

A Coreia do Sul não aderiu à TPP, mas também exige a renegociação de um acordo comercial entre os dois países. Mais de cem manifestações de protesto contra sua presença estão previstas.

Na China, Trump terá a segunda tarefa mais árdua da viagem, depois desnuclearização da Coreia do Norte, esta totalmente inexequível: eliminar o saldo comercial favorável à China no comércio bilateral, de US$ 347 bilhões em 2016 e US$ 274 bilhões de janeiro a setembro de 2017.

Por sua falta de experiência e conhecimento das relações internacionais, o presidente acredita que pode usar a questão norte-coreana na negociação comercial. Trump tem uma visão do mundo de homem de negócios. Tenta diminuir e desvalorizar quem está do outro lado na presunção de que cada negociação é uma batalha com vencedores e vencidos, sem dar a devida importância, por exemplo, a alianças internacionais.

Quando discursar na reunião de cúpula da APEC no Vietnã, Trump vai defender a posição americana de um mundo livre e aberto na Ásia, na região rebatizada como Indo-Pacífico. No meio, estão as disputas territoriais chinesas com os vizinhos, inclusive as Filipinas e o Vietnã, no Mar do Sul da China.

O ditador Xi Jinping deixou claro no 19º Congresso do Partido Comunista, encerrado na semana passada, que como superpotência em ascensão a China está disposta a usar a força para garantir suas ambições territoriais.

Conter a China é outro item praticamente impossível da agenda de Trump, mas é o que está implícito no novo conceito geopolítico do Indo-Pacífico, aliando a Índia ao projeto.

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